sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Antonio Zanella comenta a importância do TCC

O jornalista Antonio Zanella traz à Semana Catarinense de Jornalismo a experiência vivida pós-banca de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), nesta quarta-feira à noite. Em dezembro do ano passado, ele apresentou aos professores da Estácio o documentário “Uma luz no fim do tudo”, que conta a história de Elias Diel (Figue), um surfista cego. Além da aprovação, o reconhecimento veio com exibições do trabalho em diversos festivais e o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cinema Aventura e Turismo de São Paulo.

No olhar do mar

Zanella conheceu o personagem da história por acaso. No entanto, no local certo: o mar. Foi pegando onda em Balneário Camboriú onde teve o primeiro contato com ele. “O cara tava ali do meu lado, vi pessoas instruindo ele lugar a onda ia quebrar. Fiquei curioso e fui atrás”, revela o jornalista de 22 anos, que quando criança, teve sérios problemas de visão.

A vida de Figue, hoje professor de Yoga, de 35 anos, é contada por amigos, familiares e pelo próprio, além das participações do surfista Rodrigo “Pedra” Dornelles e do músico Armandinho.


Zanella (à esq.) e Figue na praia de Balneário Camboriú

Logo após apresentar o trabalho, o recém jornalista ficou decepcionado com a nota 7, dada por dos professores da banca. Mas isso não foi motivo deixar o projeto de lado. Zanella, ao ver a emoção nos olhos dos amigos e familiares, decidiu colocar vídeo na internet e inscrevê-lo em vários festivais de cinema do país.

O resultado fala por si só: 2º Lugar Categoria TV Prêmio Unimed-SC 2009 ; vencedor melhor roteiro Festival de Aventura e Turismo de São Paulo; participação no projeto 5º Para Todos em Santos, promovido pela Rede Globo; entre outros.


O jornalista (à dir.) recebendo o prêmio de 2º lugar do Prêmio Unimed


Futuro como documentarista

Atualmente, Zanella trabalha como freelancer na produção e edição de vídeos institucionais e comerciais, e iniciou o curso de Direito para complementar o primeiro canudo. Já produziu trabalhos para TVcom, Rbs e SporTV. Pretende seguir no ramo audiovisual e fazer outros documentários sobre surfistas deficientes. Durante os festivais conheceu muita gente boa na área que o incentivaram a seguir em frente. Desde então, está de olho nos programas do governo de incentivo, e assim que surgir uma nova oportunidade garante que vai cair na onda.

Conselhos profissionais

Quanto ao mercado de trabalho catarinense para os recém formados, ele crê que o conservadorismo impera no estado. “Não dão oportunidades e quando dão não sabem aproveitar os profissionais e seus conhecimentos adquiridos recentemente. Preferem contar com os jornalistas antigos a nós, recém formados”.

A dica de Zanella aos acadêmicos é para que aproveitem ao máximo o curso e procurem estagiar na área que realmente se identificam. “Primeiro de tudo assim como na vida: fazer o que gosta. Acho interessante procurar focar - durante a faculdade - qual área você quer trabalhar e estagiar nela. Quanto mais experiência adquirir, independente da empresa, ajudará no currículo quando formado. Hoje tenho dificuldade para conseguir emprego em alguma assessoria, por exemplo, porque nunca trabalhei com isso”.


Assista ao documentário Uma luz no Fim do Tubo









Fotos: Arquivo Pessoal

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Vida de gandula é vida boa

Assistir a partida do time do coração na beira do gramado sem precisar pagar ingresso; fazer exercícios físicos ao repor em campo as bolas que saem das quatro linhas; ter contato com os jogadores sem nenhum impedimento e, ainda, ser pago para isso. Sim, tem preço: R$ 20,00. Valor pago por jogo pelo Avaí aos seus gandulas.

Os pré-requisitos: ser avaiano, atento, esperto, chegar meia hora antes de cada partida e saber lidar com cada situação de acordo com o placar. O responsável pelos repositores de bola do clube, o roupeiro e também gandula, Márcio Santos, ou Marcinho, é quem explica. “Não adianta ser desligado. Se for não fica muito tempo com a gente”.


Com o mesmo grupo desde o ano passado, justamente, o último a ser dispensado da função era um desatento. Não ouviu o apito inicial do árbitro e atravessou o campo com o jogo em andamento. Para trabalhar na função, além dos requisitos citados, é preciso ser maior de 18 anos – exigência do Estatuto da Criança e do Adolescente – e ter algum contato com algum integrante do clube. A maioria dos que estão ali foram convidados ou indicados por alguém.

A tática da equipe

Geralmente a trupe, com seis integrantes, entra no gramado junto com os jogadores. O esquema tático é um atrás de ambos os gols e dois na parte lateral de cada lado do campo. Uniformizados com tênis ou chuteiras, calção, meia até o joelho, moletom do clube, tudo na cor azul, e sempre com uma bola sob o braço, eles são induzidos a seguir algumas regras básicas da profissão.

Quando a equipe da Ressacada está ganhando, atrasar a reposição. Caso contrário, sebo nas canelas. A bola tem que estar o quanto antes em campo. No jogo contra o Cruzeiro, antes de iniciar o segundo tempo, o score marcava 1x0 pro time mineiro. Marcinho explicou que a tática a partir daquele momento seria “dar o gás” na hora de repor. “Se for escanteio, a bola tem estar lá prontinha em cima da linha pra cobrança ser feita sem demora”.

Além da rapidez nos casos desfavoráveis ao time da casa, também existe a pressão verbal: xingar o goleiro adversário. Segundo os gandulas, a troca de palavras de baixo calão é comum. Durante o campeonato catarinense do ano passado, justo num clássico contra o Figueirense, a coisa esquentou.

O Avaí perdia, quando o oficce boy Anderson Belo, 22 anos, outro membro da equipe, passou realizar essa troca de “cordialidades” com o goleiro reserva do time do continente. Surgiu uma muvuca em frente ao banco de reservas e Belo, já com os nervos a flor da pele, chutou areia contra o atacante Rodrigo Fabri.

O jogador não deixou barato e o agarrou pela camisa. A confusão não passou disso, mas rendeu ao avaiano a expulsão de campo e um “vamos deixar assim” dos dirigentes do Furacão do Estreito.

As regras

No Brasil e no mundo já houve casos de gandulas que fizeram, evitaram e forjaram gols. Para os mais curiosos é possível encontrar cenas assim no You Tube. No Avaí, há poucos anos, um deles jogou a bola no meio do campo para tentar impedir o tento do time adversário. Porém, não teve sucesso. Com intuito de evitar casos como esses, a CBF passou às federações estaduais a responsabilidade de escalar e treinar os profissionais.

Mas na prática não funciona. As próprias federações alteram as normas e passam aos clubes tal dever. Quanto as punições, elas são raras, mas algumas já sentenciadas pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), já até eliminaram gandulas infratores do futebol.

Além dos riscos de discussão e agressão, também há necessidade de ficar atento quanto as boladas. Enquanto conversava com Anderson, um atacante do Cruzeiro fuzilou a bola contra a meta de Eduardo Martini, só que para fora, e por um triz não me acertou. Ali seria nocaute. Nessas horas, de acordo com o gandula, a saída é tentar se esquivar dela, e quando não há escapatória se arriscar a defendê-la.

Momentos sem tensão

Com olhar fixado para o jogo, escorado na grade de proteção e com um copo de refrigerante na mão, o outro repositor e roupeiro dos juniores, Gilberto Robgol, 37, apelidado por causa da semelhança com o ex-jogador nordestino Robson, disse que essa partida foi calma. Ele repôs uma média de 15 bolas.

Quando é movimentada a quantia dobra. Quem também estava vidrado na disputa era o oficce boy Leandro Belo, 19 anos, irmão de Anderson. Sentado na lateral do gramado, em cima do carro-maca, com as pernas cruzadas e mascando chiclete, acompanhava apreensivo os lances do time.

Profissão com nome estranho, hein

Questionados se sabiam a origem do nome da profissão que atuam, nenhum soube responder. Porém, pode-se dizer que a história é parecida com a deles. Gostar de futebol, querer ajudar os companheiros que estão dentro de campo e não ser lá um bom jogador. Foi assim que o atacante argentino Bernardo Gandulla, do Vasco da Gama, inventou a ocupação.

No final da década de 30 passada, sem conseguir adaptar-se ao futebol carioca, ele tomou a iniciativa de auxiliar os colegas indo buscar as bolas que saiam do gramado. Logo após a construção do Maracanã, em 1950, já com pessoas destinadas a função, a imprensa apelidou os buscadores de bola com o sobrenome do jogador. Dos seis gandulas do Avaí quatro foram ex-jogadores da base do clube, que não tiveram sucesso com a bola nos pés.

A gratificação

O cargo de gandulas também rende presentes, reconhecimento e a amizade dos próprios jogadores. Não é por menos, também. O que seria dos jogadores sem os colegas ali de fora para ir buscar as bolas? Simples, os próprios teriam que ir pegá-las. Marcinho que é roupeiro do profissional é o que tem mais proximidade com os atletas, já que viaja sempre com o grupo.

Os outros que acompanham somente os duelos na ressacada não ficam por menos. Camisas, calções e caronas de carro com os ídolos também contam. Anderson resume: “Que maravilha. Não quero mais nada”.

Gandula salvador de gol

Segue aí um vídeo do You Tube de um tira-gol: